Apagão da Saúde Agrava Falta de Talentos

Uma pesquisa com 194 mil empregados de 200 empresas brasileiras, que vem sendo atualizada ao longo dos últimos dez anos pela CPH Health, empresa do segmento de saúde corporativa, revela dados alarmantes sobre o mapa da saúde no ambiente de trabalho no País (veja tabela no final do texto).

Em uma época onde a falta de empregados qualificados começa a afetar os negócios de muitas empresas no Brasil, a despreocupação com a saúde daqueles que já atuam nas empresas pode tornar esse quadro mais dramático, pois as organizações perdem mais com a baixa produtividade dos que trabalham doentes do que com os custos relativos às ausências dos que precisam se afastar. “Há um elevado grau de estresse nas empresas. Constatamos que ao menos 42% desses 194.000 empregados enfrentam o problema. Além disso, mais de 65% dos empregados das empresas consultadas não praticam atividade física alguma, o que leva a outra grave consequência como o excesso de peso. Essa soma de problemas pode reduzir a produtividade em uma empresa em índices significativos, afetando os resultados finais da organização”, explica Ricardo De Marchi, médico e profissional de saúde corporativa da CPH Health, que desenvolve programas de saúde para várias empresas no País.

Para Michel Daud Filho, médico e diretor de Saúde e Qualidade de Vida da Vivo, os elevados indicadores de estresse no ambiente de trabalho no Brasil podem estar por trás de outro fenômeno significativo e ainda pouco estudado: a depressão. “A depressão está se tornando uma epidemia silenciosa nas empresas, afetando de modo significativo a qualidade de vida das pessoas e o estresse pode ser uma das causas do avanço desse mal. As pressões do dia a dia, a crescente cobrança por resultados e a competitividade no espaço de trabalho agravam problemas de saúde em pessoas que não têm práticas esportivas, se alimentam mal e dormem pouco”, alerta o médico da maior operador de telefonia móvel do país.
 
Medicação

Sedentarismo, má alimentação e sono precário terminam se tornando uma bomba relógio que, quando explode, pode tirar o empregado de suas atividades por um longo período. Mas o mundo do trabalho enfrenta, hoje, outro grave problema, que é o de um crescente número de colaboradores usando medicações que afetam o sistema nervoso central. Segundo Luiz Monteiro, presidente da ePharma, há casos de empresas em que 40% da força de trabalho utilizam medicamentos desse tipo, como emagrecedores e soníferos, o que termina reduzindo a produtividade em uma escala ainda pouco avaliada mas muito significativa. “Temos aí um círculo vicioso. As pressões do trabalho agravam problemas como ansiedade que levam a aumento do peso. Por essa razão, muitas pessoas terminam usando emagrecedores, que afetam o sistema nervoso central e funcionam como estimulantes. Para dormir, a pessoa é obrigada a tomar soníferos, outra medicação com impactos neurológicos. Essa somatória de medicações muitas vezes antagônicas prejudica a concentração e o sono das pessoas, afetando diretamente a capacidade e a qualidade do trabalho. Poucas empresas no Brasil têm a exata noção do que se passa com seus empregados no que diz respeito à saúde e às medicações que usam”, adverte.
 
Falta gestão

De acordo com Paulo Hirai, diretor da SantéCorp, empresa especializada em gestão de saúde e gestão de ambulatórios médicos, há um elevado grau de desinformação sobre o impacto da saúde na produtividade dos empregados. “Os presidentes de empresas no Brasil, de modo geral, entendem a importância de uma gestão financeira, gestão de tecnologia ou gestão de marketing, mas se esquecem que a saúde de seus empregados, que garante a qualidade do que é produzido, também precisa ser administrada. Já sabemos que 75% das doenças crônicas que afetam os trabalhadores estão associadas aos estilos de vida dessas pessoas como diabetes, hipertensão e asma, que poderiam ser reduzidas se as pessoas tivessem melhor orientação e fossem estimuladas a novas atitudes”, alerta.

Segundo Hirai, um estudo recente desenvolvido pela Universidade de Harvard evidenciou que dos custos totais provocados pela má saúde dos empregados, apenas 23% têm a ver com as despesas relativas à manutenção do plano de saúde. “Cerca de 64% dos custos decorrentes de uma má saúde nas empresas são decorrentes do presenteísmo, ou seja, pessoas com problemas de saúde variados que levam a baixa produtividade. As perdas com faltas de empregados doentes, por exemplo, não passam de 6% do custo total. Isso significa que a gestão de saúde hoje, nas empresas brasileiras, vem focando o problema errado. Enquanto muitas empresas acham que os custos com planos de saúde ou faltas de empregados crescem, elas ignoram que a perda mais significativa está na baixa qualidade da saúde dos empregados que vão todos os dias ao trabalho”, assinala.
 
Encontros de Saúde Corporativa

O debate do impacto da saúde na produtividade das empresas é o tema do seminário internacional que a CPH Health promove em São Paulo, no próximo dia 30 de junho, no auditório do Hospital Sírio Libanês. O encontro terá a presença de Sean Sullivan, presidente do Institute of Health and Productivity Management, que analisa as perdas das empresas decorrentes de má gestão da saúde corporativa. Mais informações podem ser obtidas no site do evento, no endereço: http://www.cph.com.br/encontros2011.
 

Mapa da saúde nas empresas brasileiras
Empregados com peso acima do normal ou obesidade
45.1%
Empregados com alimentação inadequada
56,2%
Empregados que tomam café da manhã inadequado
75,4%
Empregados com alergias
24,3%
Empregados com asma
4,5%
Empregados com colesterol acima do normal
13,8%
Empregados com diabetes
1,4%
Empregados que sofrem de enxaqueca
15,3%
Empregados com pressão arterial elevada
6,7%
Empregados que sofrem de problemas de coluna e dor nas costas
11,5%
Empregados que se excedem no consumo de álcool
5,6%
Empregados que consomem altos índices de cafeína
24,2%
Empregados fumantes
12,5%
Empregados com atividade física insuficiente
76,1%
Empregados que trabalham sentados a maior parte do dia
68%
Empregados com significativo nível de estresse
49,2%
Empregados com elevado nível de ansiedade
48,3%
Empregados com desequilíbrio entre vida profissional e vida pessoal (mais trabalho do que lazer ou convivência com a família)
41,4%