Falta de Treinamento de Operadores de Máquinas Pesadas

O Maior Gargalo das Obras de Infraestrutura

Com o novo dinamismo do mercado decorrente da imensa quantidade de projetos e obras previstas para os próximos anos, em especial nas áreas de infraestrutura, um dos maiores gargalos no setor da construção pesada se tornou a questão da falta de mão de obra especializada para operar as máquinas de alta tecnologia utilizadas nos canteiros, como: retroescavadeiras, guindastes, gruas, tratores de esteira, motoniveladoras, entre outras. Isso pode comprometer, não apenas a produtividade nas obras, como aumentar seriamente o risco de acidentes, muitos deles com riscos à vida humana e prejuízos materiais.

De acordo com dados do Instituto Opus, programa da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção) dedicado a formar, capacitar e certificar operadores de equipamentos pesados para a construção civil, entre 2009 e 2013, estima-se que o mercado irá demandar uma média de 54 mil operadores por ano, considerando um operador por máquina e trabalho em apenas um turno. “Se não houver investimento na formação de uma nova geração de operadores, teremos profissionais escolhidos apenas pela imagem do jeitão pesado do operador e do mecânico. Além disso, as máquinas de nova tecnologia serão manipuladas por pessoas despreparadas que não conseguem extrair dos equipamentos todo seu potencial produtivo e podem provocar acidentes, como a imprensa já tem noticiado várias e várias vezes, ao longo dos últimos 10 anos”, completa o diretor do Opus, Wilson de Mello Júnior.

Um levantamento feito pela OSHA (Occupational Safety and Health Administration), Ministério do Trabalho dos Estados Unidos, aponta que apenas 6% dos acidentes que envolvem máquinas são atribuídos à falha mecânica ou geográfica do local de operação. O restante, ou seja, 94% ocorrem devido a erros humanos e estão diretamente ligados aos operadores, ou à gerência. A pesquisa revela que 26% dos acidentes acontecem devido à imperícia dos operadores e 14% por falta de concentração. Mostra, ainda, que 27% estão relacionados às falhas na supervisão da gerência e 12% por erros de planejamento e organização da equipe responsável. “Apenas o domínio sobre o equipamento com o devido conhecimento conseguirá fazer com que a quota de vidas humanas coletadas em acidentes tenda a zero, como ocorre hoje, por exemplo, no Canadá, onde o número está nas casas decimais”, diz o diretor do Instituto Opus.

 
Questões cruciais

Preocupadas com a urgência da questão, entidades e empresas criam alternativas para capacitar novos operadores. Os fabricantes, por sua vez, oferecem treinamentos para equipamentos novos, e obviamente de sua própria linha de produtos.
O diretor do Instituto Opus afirma que isso ajuda, mas não resolve o problema. “Muitos operadores no Brasil são formados a partir do treinamento com outros profissionais da própria empresa, nem sempre existindo um cuidado com a formação conceitual do equipamento, que exige além de habilidade e coordenação motora, conhecimentos de física, mecânica, intimidade com os computadores de bordo e, em alguns casos, conhecimentos de inglês ou espanhol, pois são máquinas que incorporam altíssimo grau de tecnologia embarcada. É como se déssemos um boeing  de última geração para ser pilotado por quem está acostumado apenas a dirigir carro popular. O momento é mais que oportuno para treinar e qualificar a mão de obra.”
Salário
Os reflexos da falta de profissionalização na área podem ser visualizados até mesmo na equiparação dos salários. A faixa salarial de um operador pode variar de R$1000 a R$ 25 mil. “Dentre as questões variantes para essas desigualdades estão o tipo de máquina, o local da obra, a empresa contratante, o tempo gasto para o trabalho. O que vemos nesse setor é uma disparidade”, explica o diretor.


De acordo com o Instituto Opus o problema de qualificação de mão de obra para operação de máquinas pesadas não é novo. Durante muito tempo os altos e baixos da economia do país e a estagnação do setor da construção civil, aliados a frotas antigas, desestimulou as empresas a investir em treinamentos, em especial nos anos 80 e início da década de 90. Muitos operadores ficaram sem emprego e rumaram para outras atividades. “À medida que o mercado abriu e a demanda aumentou, diz Wilson Mello, construtoras, empreiteiras e locadoras se viram diante da urgência de renovação das frotas por equipamentos modernos e mais produtivos, que por sua vez precisam ser manejados por profissionais qualificados, e mais do que nunca resolver, sob pena de acidentes e outros problemas nos canteiros.